....

....

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Intervenção na sessão solene do 38º Aniversário do 25 de Abril

Intervenção da deputada municipal, Manuela Cunha, eleita de «Os Verdes» e líder da bancada CDU, na sessão solene da Comemoração do 38º Aniversário do 25 de Abril, realizada no passado dia 24 de Abril de 2012 na Assembleia Municipal de Almeirim.
Há 38 anos, a esta hora, algures em Portugal, talvez em Almeirim, uma mãe, uma namorada, uma família choravam. A morte que tal como um abutre pairava sobre muitos lares deste país, tinha batido à porta. Uma guerra colonial injusta e sem sentido acabava de fazer mais uma vítima.

Há 38 anos, a esta hora, algures em Portugal, talvez aqui bem perto, em Alpiarça, uma criança assustada e sem resposta, assistia à prisão do seu pai por homens armados. A repressão que amordaçava este país tinha batido à porta. A PIDE levava para sítio incerto mais um Homem que tinha ousado fazer frente à exploração, um Homem que tinha ousado “Dizer Não”.

Há 38 anos, a esta hora, algures em Portugal, talvez aqui em Almeirim, uma mulher chorava abraçada ao seu homem que para fazer frente à miséria se preparava para dar o “salto”, tal como tantos outros “ que partem velhos e novos, buscando a sorte noutras paragens, noutras aragens, entre outros povos”, como cantava o poeta.

Há 38 anos, a esta hora, em vários pontos do país, e também aqui em Santarém, num acto de coragem e de heroísmo sem par, os Capitães de Abril preparavam-se para avançar e libertar este país de 48 anos de ditadura, abrindo com o entusiasta apoio do povo as portas à “Revolução dos Cravos” que deu início à construção de um Portugal democrático, mais desenvolvido, mais justo, mais culto e mais digno.

Para a CDU, relembrar tudo isto, é para nós a melhor forma de homenagear e agradecer a grandiosidade e generosidade do acto libertador dos Capitães de Abril (permitam-me a singela homenagem a Salgueiro Maia) e a luta travada na clandestinidade, por todos aqueles que deram as suas vidas pela liberdade e por um país melhor.

Contar aos jovens de agora, a escuridão que assombrava os dias dos jovens de então, é no entendimento da CDU, contribuir para lhes transmitir o verdadeiro valor, dimensão e sabor da Paz, da Liberdade, da Democracia, dos Direitos Sociais. É fazer-lhes compreender o quanto estes direitos foram duros de conquistar e quanto são importantes de preservar.

Relembrar tudo isto, é também, uma maneira de combater o branqueamento da ditadura e cujos objectivos são fáceis de adivinhar no momento que o nosso país atravessa.

Para nós, homenagear a “Revolução dos Cravos”, não passa só por evocar a profunda alegria que esses momentos representaram. Passa também por repor a verdade sobre o profundo alcance económico, social e civilizacional das mudanças operadas e conquistadas com 25 de Abril. Conquistas estas que ficaram consagradas na Constituição de 1976 e que levaram a uma profunda e inegável melhoria das condições de vida dos trabalhadores e do povo do nosso país.

Para alguns, as comemorações desta data, não passarão do cumprimento, contrariado, de uma “formalidade” que não tiveram ainda, a ousadia de eliminar. Para estes, tudo isto já passou à História. Aliás nunca deveria ter entrado na História - mais um feriado histórico que teria dado grande jeito eliminar. Haverá alguns até, que devem ter pena que a Troika não tenha incluído essa exigência no seu Programa para com ela se escusarem.

Mas se a data foi ao longo destes 38 anos comemorada nas ruas e continua no calendário dos eventos oficiais, a sua essência tem vindo a ser paulatinamente dinamitada, sem escrúpulos nem vergonha, com responsabilidades partilhadas entre PSD/CDS/PS.

Chegamos agora ao momento dos bombardeamentos com a artilharia pesada, numa tentativa desesperada de arrasar tudo o que resta dos pilares do 25 de Abril que ficaram consagrados na Constituição de 1976 e que sustentaram a grande mudança civilizacional operada no nosso país, que geram bem-estar e desenvolvimento:

- A Economia e o Desenvolvimento Sustentável com a privatizações dos sectores estratégicos e fundamentais tais como a banca, as águas, o sector energético e os transportes, hipotecando assim não só o desenvolvimento económico, mas também a sustentabilidade ambiental e o emprego;

- O Estado Social com os ataques proferidos aos direitos ao emprego e aos direitos dos trabalhadores, aos direitos sociais, à saúde, à educação e aos serviços públicos, empurrando milhares de pessoas para a pobreza e instituindo de novo a caridade como forma de sobrevivência;

- A Soberania Nacional, com políticas de destruição total da nossa produção nomeadamente a nível alimentar, e de subjugação aos interesses económicos e directrizes políticas do grande capital internacional e da EU;

- A Democracia, atacando a sua vertente mais participativa e mais próxima do cidadão: o Poder Local.

Senhoras e Senhores Munícipes aqui presentes, Senhores Deputados Municipais, Senhores Vereadores, Senhor Presidente da Câmara Municipal, Senhor Presidente da Assembleia Municipal:

Há 38 anos, a esta hora, mesmos os que desejavam e lutavam por um Portugal mais belo estavam longe de “sonhar” que o despertar da aurora do dia 25 de Abril de 74 ficaria na História do país e do Mundo representado pela imagem de um menino a colocar um cravo no cano de uma espingarda.

O que a “Revolução dos Cravos” nos ensinou indubitavelmente, é que o “Sonho é possível”, é que mesmo nos momentos mais negros da vida individual e colectiva dos povos há sempre lugar à esperança e à mudança.

Para isso é preciso que o Homem haja, não vergue e saiba “Dizer Não. É preciso coragem, como a dos Capitães e a de todos os que fizeram frente à ditadura, é preciso valorizar o essencial e não o supérfluo e passageiro. É preciso amar o seu país.

E porque a CDU está convicta que no público e nas outras bancadas aqui representadas, se bem que com opiniões diferentes, também há homens e mulheres que prezam a Liberdade, a Democracia, a Justiça Social, o Desenvolvimento e a Soberania Nacional, apelamos aos eleitos das outras forças políticas que partilhem destes valores, que se juntem a nós e se oponham a todas as medidas que possam por em causa os pilares de Abril.

Pela parte da CDU continuaremos a lutar. Queremos um Portugal melhor, recusamos voltar a cantar a Canção do Emigrante.

VIVA O 25 DE ABRIL!

Sem comentários:

Enviar um comentário